Beleza Pele

Beleza Pele

Jogo de Palavras

POR MÓNICA BOZINOSKI. 

 

Pode ser um exercício meticuloso, mas é sempre o mais eficaz. Na procura de compreender melhor a pele, mergulhámos em águas turvas, mas voltamos à superfície com a resposta para o debate pele seca versus pele desidratada. 

 

Na infinidade de frases, páginas e capítulos dedicados ao á-bê-cê da pele, aquilo que sabemos sobre o maior órgão do nosso corpo é um eterno jogo de força entre mitos e factos. Submergir na imensidão do conhecimento cosmético é sinónimo de encontrar certezas tão antigas como “a pele é um reflexo das nossas escolhas” Ou “envelhecer é um destino inevitável”. Outra verdade, talvez mais surpreendente do que a importância de usar protetor solar todos os dias, ou seguir religiosamente a máxima de retirar a maquilhagem antes de dormir, é a diferença silenciosa entre pele seca e pela desidratada. Convencionadas como palavras sinónimas, “seca” e “desidratada” não poderiam ser duas noções mais distintas – e as disparidades começam assim que procuramos compreender o seu significado no universo dermatológico. A resposta é, respetivamente, um tipo de pele e um estado de pele.

“O tipo de pele e o seu grau de hidratação é geneticamente determinado: existem pessoas com pele normal, oleosa, mista ou seca”, diz-nos a dermatologista Paula Quirino. Na sua essência, a pele seca, pela qual podemos culpar a árvore genealógica, distingue-se pela produção insuficiente de sebo ou de óleo. Se, para a pele oleosa, estas palavras representam um filme de terror, para a pele seca, são um romance distante. Com um papel essencial na retenção da hidratação, a falta destes agentes naturais e fundamentais ao funcionamento ótimo da pele reflete-se no aspeto escamado e áspero, e numa maior tendência a rugas pronunciadas. A par das causas hereditárias, o clima e o envelhecimento, que diminui de forma significativa a produção de sebo, afiguram-se como fatores que agravam as características da pele seca.

O cenário não é o mais atrativo, mas, como diz o ditado, depois da tempestade vem a bonança – e se as inovações constantes e fascinantes da indústria da Beleza nos continuam a ensinar algo, é que nunca nada está verdadeiramente perdido. Apesar de o tipo de pele com que nascemos ser permanente, como explica Paula Quirino, “a pele seca não é patológica”. Este suspiro de alívio significa que, com cuidados específicos, capazes de manter os níveis de hidratação, é sempre possível melhorar a aparência da pele. Os conselhos da dermatologista passam por “utilizar produtos direcionados ao longo do ano, particularmente durante o inverno”, sem nunca esquecer os meses de verão, quando a proteção solar deve ser reforçada.

Continuamos o debate e passamos a palavra à pele desidratada. Ao contrário da pele seca, a pele desidratada define-se como um estado, temporário, que ocorre quando existe falta de água nas camadas superiores da epiderme. Como esclarece Paula Quirino, apesar de “a pele seca ser mais suscetível à desidratação e ter tendência a enrugar com mais facilidade”, a verdade é que “qualquer tipo de pele, em qualquer zona do corpo, pode ficar desidratada”. Podemos garantir que não acabou de ler uma frase retirada de uma obra de ficção – pele normal, mista, e até mesmo oleosa, podem passar algumas temporadas no deserto do Saara. Como reconhecer que a pele precisa de um boost de hidratação? Estar alerta para sinais como “aspeto rosado, áspero, descamativo e fissurado”, bem como sensação de desconforto que, como nos diz a especialista, pode surgir num grau de intensidade variável.

Quanto aos porquês da desidratação da pele, como clarifica Paula Quirino, estes estão diretamente ligados a “fatores que alteram a função barreira da pele”. Entre eles, a dermatologista destaca fatores genéticos, associados à idade ou a desequilíbrios hormonais, fatores patológicos, como psoríase ou eczema atópico, fatores externos como a temperatura, a humidade, a radiação ultravioleta e a poluição, e ainda fatores internos, como o nosso maior inimigo, o stress. Aquilo que pomos no rosto e no organismo, por mais cliché que possa parecer, também desempenha um papel fundamental no estado de hidratação da pele. Como nos explica a dermatologista, os fatores iatrogênicos, como tópicos para acne ou para rugas, e mesmo fármacos orais, podem ser apontados como possíveis causas para o estado de pele desidratada. O segredo para conseguir levantar a poeira e preservar o fator de hidratação natural da pele? “Aplicar produtos que, ao serem absorvidos pelas camadas superiores da epiderme, impeçam a perda de água transepidérmica, mantendo assim a pele hidratada por mais tempo”, recomenda a especialista.

Na clareza daquilo que separa a pele seca da pele desidratada, existe, contudo, um porto de abrigo comum: a importância da ingestão de água para a hidratação cutânea. Não é uma noção revolucionária, uma ideia pioneira ou a inovação do século, mas, até prova em contrário, vamos continuar a recorrer a esta velha máxima com a mesma segurança de uma boia salva-vidas.

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